terça-feira, 30 de abril de 2013

O "Anjo"

Ele chegou. Mais parecia um anjo. Nos lábios um sorriso amarelo. Nos olhos, uma expressão cansada. Trazia consigo um semblante de tranquilidade. Me trazia paz. Me acalmava com cinco minutos de conversa.

Só que o anjo não era anjo. O "Anjo" era dono de uma história triste e de um fardo pesado a carregar. Mas, mesmo assim, para mim era como se fosse, porque ele tinha o poder de transformar meu dia e eu ficava mais feliz só em saber que iria encontrá-lo. O problema é que esse "Anjo" não podia estar comigo sempre. E eu ficava triste quando não podia vê-lo ou tocá-lo. E a felicidade momentânea que me trazia já não supria minha vontade dele.

Então pedi para ele ficar. Ele não soube o que responder. Ele ainda não havia decidido. Talvez porque ele fosse realmente um anjo e soubesse que eu não era. Talvez ele soubesse do meu lado demoníaco, da minha dualidade. Talvez ele tivesse medo. Me pediu para esperar. Eu apenas o olhei, com olhos que consentiram, porém, olhos apressados. Eu não era anjo. Eu não sou anjo. Meu lado demônio as vezes fala mais alto. E este não quer esperar para ser feliz, mesmo que para isso, precise mandar o anjo embora. 

No fundo, eu sabia que anjos nunca ficam. Anjos protegem, mas tem asas. Asas perfeitas. Um hora, eles as abrem e, simplesmente, voam. Um voo leve, de quem um dia pode voltar. Talvez, um dia.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O estranho

Tarde da noite. É aquele momento em que você está sozinho. Só você e seus pensamentos. Um estranho bate a sua porta. Não qualquer porta. Ele bate a porta do seu coração. E você está ali parado. Não esboça reação. Não sabe o que fazer.

E nesse momento você começa a avaliar, a querer saber mais sobre esse estranho. Quer saber de onde vem, o que costuma fazer, quais os planos dele para você... Mas isso nem ele mesmo sabe. Então você se pergunta: "Posso mexer na minha vida, deixar esse estranho entrar e bagunçar tudo? E se tudo mudar para pior?"

É um risco a se correr. Tudo o que é novo, estranho, causa medo. Se pensar a fundo sobre isso, você já teve medo de andar quando era bebê porque podia cair e se machucar e porque você não sabia o que fazer com suas pernas. Mas no fim descobriu o quanto é bom se movimentar sozinho, sem precisar de colo o tempo todo. Você já teve medo de beijar pela primeira vez e não ser bom ou de decepcionar o outro. Mas no fim você descobriu o quanto os lábios falam num beijo amoroso. Você já teve medo de dirigir e bater o carro. Mas descobriu o quanto é bom ser independente. Existem muitas outras situações como essa. A questão é que o medo torna-se nada em comparação ao que pode acontecer de bom.

E o estranho continua aí. Bate a porta novamente. Você finalmente pergunta: "Quem é?". O estranho então sussurra: "Meu nome é Amor. Acho que outros estranhos já bateram e se passaram por mim. Te trouxeram coisas boas, mas também muitas decepções. E você parou de acreditar que eu existia. Mas estou aqui.". Você pára e pergunta: "E se você não for o verdadeiro Amor?". O estranho então responde: " Meu caro, isso você vai descobrir se abrir a porta e me deixar entrar com meu amigo Tempo. Afinal, você já conhece a minha irmã, a Amizade, e sei que ela só tem te feito feliz. Então, deixe o medo lá fora, porque as alegrias que posso trazer são infinitamente maiores do que ele. " É nesse momento em que você se dá conta: já está com a sua porta escancarada.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Tempo: O maligno e curador

Tempo. Ah o tempo. Este e sua arte de ser maligno e ao mesmo tempo curar almas. Maligno, perverso em toda a sua plenitude de adormecer situações e sentimentos mais íntimos. Adormecer, porém não apagar. E, simultaneamente, o ser mais perfeito em restaurar corações partidos, auto-estimas defloradas e cabeças perturbadas. Como pode ser tudo isso? Simples, o tempo é criatura de Deus. Criatura perfeita, que tem dois lados da moeda e equilibra-os.

Esse referido tempo não se trata da hora marcada no relógio, nem da data marcada no calendário. É o tempo que se precisa consigo mesmo. O tempo sozinho. O tempo para organizar as idéias. O tempo que se dá uma chance de recomeço. Tempo maligno? Sombrio? Talvez, porque às vezes este se faz esquecer o que não deve. Isso mesmo, o que não se deve. Um sorriso, uma lágrima, momentos simples precedidos a uma decepção. E quando se pára e pensa no estrago feito pelo tempo nota-se que este não volta mais.

Em seu caráter curador, determina o que tanto se quer: fechar feridas e recompor o órgão que se acha não poder. Tudo determinado pela sua aura do bem. Então diante de um mau momento, nada melhor do que usar o tempo ao seu favor. Devagarinho se conforma, se aprende. E o que foi mágoa passa a ser apenas lição.

Portanto, porque querer se jogar de um carro em movimento ou mesmo de um abismo? É não apenas insanidade, mas também falta de confiança no tempo. Situações infelizes são constantes na vida. Então dar fim a isso de forma radical só demonstra o quanto se é fraco e irracional. Então enfrente... se olhe no espelho, se ame, dê uma balançada no cabelo, empine o nariz e diga: "Tempo, já pode começar a agir!" Fique certo, assim ele o fará.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Esse nome é o teu

De mansinho você veio
Não queria se entregar
nem queria me conhecer
nem se apaixonar

e eu só estava lá te olhando
e de repente o sentimento falou mais alto
e você se chegou finalmente
tudo através de um "Bom dia! Ainda nem dormi, acabei de chegar de uma formatura!"

e se chegou mais
entre uma restauração e outra
uma mensagem carinhosa, uma foto sua
uma foto minha, fotos de nossas rotinas

e fui ficando dependente
e fui ficando com medo
medo de não ser isso tudo
e fui ficando na dúvida

e você finalmente apareceu fisicamente
e o toque da pele me tocou num lugar inesperado
tocou no fundo do peito
e perdi as rédeas
e fiquei mais na dúvida
Dúvida se embarcava ou ficava com a minha vida vazia

E fiz a escolha errada
fiz tudo errado
e o errado já não tem volta

E cá estou as voltas
pensando em te encontrar
pensando em como te encontrar
E agora a lágrima mancha esse papel

E você nem sabe
quantas noites mal-dormidas eu dormi
em quantos abraços procurei o teu
em quantos abraços procurei te esquecer

Mas em mim você vive
na memória, nas lembranças
no cheiro do sundown cada vez que eu sinto

e o meu consolo agora é Deus, meus amigos e família
e o meu consolo é poder te ver toda noite em meus sonhos
é poder dizer que você fez e ainda faz parte (Deus sabe até quando)
da minha vida

Saudade tem nome
e esse nome é o teu

domingo, 7 de abril de 2013

Palavras e olhares

Palavras são muito fáceis.É muito fácil dizer que não esqueceu. Também é muito facil dizer que não gosta mais. Dificil é demonstrar a verdade com um olhar. Aquele olhar que por hora nao posso mostrar. Mas que guado de verdade. Se tudo já foi dito, resta por a prova o olhar, porque só ele tem o poder de falar algo mais profundo. O tratamento com raiva ou indiferença pouco atingem porque sei que os olhos não fazem isso. Um olhar não muda rapidamente. Sentimentos não mudam rapidamente.Reservarei agora um pouco de silêncio. O silêncio alimentador de almas.Uma hora a raiva se vai e fica o olhar...

terça-feira, 2 de abril de 2013

"Perfeitos" demais para viver

Alguém aqui já mentiu? Ou melhor, alguém aqui não mentiu? Mentiras todos contamos. A questão é a gravidade e por quanto tempo esta é sustentada.É muito fácil jogar pedras e apontar, mas às vezes não lembramos que o nosso telhado também é de vidro.

Falar a verdade é ótimo. É perfeito. Mas isso não nos torna melhor do que outros. Aliás, não devemos nem fazer comparações. O que nos torna boas pessoas, pessoas humanas é admitir que mentimos e por conseguinte magoamos também. O que nos torna melhores é entender certas mentiras. Entender que algumas são contadas por medo de machucar. 

Não, não estou incentivando a mentira. Até porque esta tem perna curta e nunca soluciona nada. O que estou analisando aqui é que a verdade tem a hora certa para acontecer. Aí vem aquela decepção... "Por que você mentiu e tal???" 

Nunca sabemos a resposta. Procuramos desculpa mas não temos. Simplesmente mentimos. É do ser humano fazer isso. Nem é para sacanear nem para fazer alguém de palhaço. É porque as vezes momentaneamente parece a saída mais fácil quando somos interrogados sobre algo que queremos guardar dentro de nós. Mas se o perdão existe por que não usa-lo???

Então, o que é mais importante? Ser o "cara da verdade" ou ser um mentiroso humano, capaz de cometer erros ou mentir, porém de perdoar?

Eu admito. Eu minto. Sou uma mentirosa. Não sempre. Não de sacanagem. Mas sou. No entanto, também falo a verdade. Também sou sincera, mesmo que um pouco tarde. Sou o Yng Yang. Tenho os dois lados da moeda. Eu também perdôo. E espero ser perdoada. Não por todos, mas pelos que sabem que possuem telhado de vidro. Porque os que acham que não tem, pouco me interessam. Estes são "perfeitos demais para perdoar. "Perfeitos" demais para cometer erros e, consequentemente, viver.