sábado, 11 de fevereiro de 2012

Diário de uma viagem de bordo: Quando dois mundos de matutices entram em choque


Mariazinha do Céu saiu do interior de Brejinho há 6 anos. Por causa disso já se sente aprendida. Agora é da “capitá”. Nem se lembra de como era tão matuta. Mas, às vezes, a matutice aflora, como no dia em que viajou pra uma cidade no interior da Paraíba.
            Sua amiga, Penélope Luxuosa a chamou para conhecer o seu interior, Sertão Verde, o qual estava festejando a sua Padroeira. Imediatamente ela pensou: “Deve ser uma cidadezinha com três ruas!”. Teve mais certeza ainda quando descobriu que o ônibus era um daqueles “pinga-pinga” que se uma galinha colocar o pé na pista, ele para (era galinha demais mesmo!) Mariazinha estava aflita em encontrar seu destino. Queria era ser feliz ao lado da sua amiga Penélope. Queria conhecer gente nova, fazer novos amigos e quem sabe... Mariazinha acordou dos seus pensamentos quando uma mulher gorda, com bigodes e sobrancelhas por fazer gritou: “O ônibus raí parar pa nóis cumê!”
            Era o fim do mundo. Onde ela estava amarrando seu burro? (hehehe). Chegando à cidade, foi mudando seu pensamento. Viu lindas mansões (com direito a lago e ponte na entrada), serras verdes e a estátua de um Frei quase do tamanho do Cristo Redentor. Desceu do ônibus, com Penélope na frente, guiando seu destino a puxar aquela mala a pé até a casa da sua tia. Quando uma matutice entra em choque com a outra não dá outra. Mariazinha vem de um lugar onde as pessoas são acanhadas. Ficam com vergonha diante da visita e falam tudo nas costas, rezando para que a visita vá embora. Dona Jurema Falanacara era bem diferente. Não tinha papas na língua. Reclamava de tudo, com uma brabeza sem tamanha. Reclamou do jeito que Mariazinha pintava a unha, do chinelo que Mariazinha não calçava e de como Mariazinha servia o almoço, porque primeiro tinha que vir o arroz e depois a carne em cima. A pobre matuta achou que era implicância, mas Penélope advertiu: “É implicância carinhosa, ela gostou de você!”
            As duas amigas se arrumaram “nos trinques”. Mariazinha na expectativa: “Será que aqui vou ter 50 centavos de felicidade?”. Lá iam as duas matutas da “capitá” se achando as estrelas de Sertão Verde. Foram para o Camarote da festa. Jorge Mãoaberta, amigo de Penélope, deu as senhas e explicou que em Sertão Verde o povo é arretado e a briga é de facada. Não dava certo ficar lá em baixo.
            O camarote era enfeitado. Cheio de luzes, balões, espelhos e fitas que caiam na boca sempre na hora de falar. E a frente dele estava Geraldo Fechação (pendia para o outro lado mesmo). Este tratou Mariazinha e Penélope como duas princesas. Era whisky, refrigerante, gelo, água-de-coco, petiscos, frios, salgadinhos, chiclete... Mariazinha nunca havia sido tão bem tratada. Tomando uns gorós com sua amiga, nem viu o tempo passar. Só sabia dizer: “Amigaaa a gente está só no Oude Parr!” Penélope só ria.
 As duas estavam causando inveja nas moçoilas do camarote ao lado. Onde tem inveja e olho gordo, tem desastre. Pobre Mariazinha, virou motivo de chacota quando caiu na escada em direção ao banheiro. Saiu bolando até cair de bunda no chão. Geraldo teve pena e apanhou a coitada. A desgraça estava feita. Pronto, agora só adiantava rir. Penélope riu demais. Por rir tanto, também sofreu uma queda. A coitadinha foi empurrada e caiu de joelho no chão. Pense só. Mulher bonita é isso mesmo. Foram 2 seguranças e um bom-moço que ali passava para ajudar Penélope. A pobre da Mariazinha só teve a ajuda de um rapaz alegre e duvidoso. Que vida injusta!
Depois de muito dançar, Marizinha viu sua saia no pescoço. Mas já não se importava. “Eu não sou daqui e nem vim pra ficar” pensava ela. Depois de se divertirem e dançar o Lêlêlê e o Kuduro (só dançar!) as duas amigas só queriam saber de comer o cachorro-quente de Bi. Não mediram esforços. Encheram o saco dos seus amigos até resolverem ir. Marizinha, não satisfeita com suas marmotas, se danou a comer o cachorro-quente de colher. De quebra, comeu também o guardanapo que forrava o negócio. O que o “Oude Parr não faz?”. Os novos amigos da região viram Mariazinha cometer esse deslize e nada disseram. Ao final, quando a matutinha estava terminando, foi aboradada do acompanhamento do cachorro-quente, o guardanapo.
Cada interior é diferente. Uns pendem para as matutices no jeito de falar, na forma de tratamento das pessoas, na brabeza. Outros pendem para o lado da inocência, do não saber agir, da tentativa de “abafar” sem muito êxito, do desastre quase cômico para não dizer infeliz. Quanto a Mariazinha, acho que ela encaixa na segunda opção. Mas um dia desses, ela consegue passar despercebida. Aí vai um recado para ela: “Força mulher, desanime não! Suas garfes ainda vão fazer muita gente rir.!”